Hoje fiz um convite ao meu ego.
Levei-o para passear.
Consegui enganá-lo, como ele é tolo, como se ludibria facilmente um ego!
Levianamente, convidei-o para passear.
Levei-o para parques, praças, até que me enchi por vê-lo tão feliz.
É bem verdade que estava já impaciente, ansioso para realizar meu intento:
Queria destruí-lo.
Mas queria que fosse de forma violenta.
Queria socá-lo muito, surrá-lo como a uma pele de tambor de escola de samba.
Minha vontade era de golpeá-lo com baquetas de ferro até não ouvir mais nenhum som.
Espancá-lo como um skinhead a um gay, ou judeu, ou negro...
Não, pensando bem, queria açoitá-lo de graça, sem ideal definido.
Só raiva, raiva.
Vê-lo sorrindo frente as rosas me encheu de fúria.
Ele, insensível, não percebeu crescer em mim a repugnância total e irrestrita.
Comecei a massacrá-lo, ali mesmo em praça pública, no meio da rua.
Queria que todos vissem.
E coloquei nos olhos de todos, fagulhas de fogo que o atravessavam, rasgando-o.
Raspava-o no chão.
Quanto mais via sua feição de desespero, mais ficava satisfeito.
Mais ficava feliz.
Afogava-o em um caldeirão de lava em ebulição.
Pulverizei-o muitas e muitas vezes com todas as armas sci fi.
Enfiava bastões gigantes em seu cú.
Explodia dinamites em seu cérebro.
Retumbava dentro de si milhares e milhares de vezes a ânsia do clamor.
Não havia lamento, nem dó que me refreasse.
Desfigurei meu ego em uma grande fissão nuclear. Destas que provocam buracos negros, destas que causam o fim de mundos.
Persegui-o impetuosamente em todas as dimensões, dizimando-o em cada um de seus esconderijos.
Matando-o como a uma barata.
Ouvindo o croc e vendo sua gosma branca.
Pude testar todos os aparelhos de tortura, desde os tempos medievais, em meu ego.
Dei choques sob suas unhas, golpes com taco de beisebol em seu saco.
E quis vê-lo morrer suplicando nos braços de um demônio de quinta.
Mas antes que pudesse dar seu último suspiro, ainda pude gritar com a força de todos os ventos em seu ouvido:
Isto é CAOS!!!
Sata